sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Agressões

Agredimos as pessoas
De quem mais gostamos todos os dias
Com palavras ditas e negadas
Com atitudes que doem
Pequenos olhares e gestos que ferem

Agredimos por estarmos presentes
E ainda assim, às vezes, estarmos ausentes

Por sermos quem somos
Por parecer que somos e não sermos
Por dizer o que pensamos
Ou o que pensamos pensar no momento
Ou o que nem sequer pensamos
E nos escapa da boca pra fora

Agredimos quando nos perdemos
Das pessoas
E às vezes quando as encontramos
Sem que elas queiram ser encontradas
Ou quando elas finalmente nos encontram

E assim as agredimos
Quebrando todas as expectativas
A nosso respeito
Que elas haviam montado
Tão delicadamente
Tão fragilmente
Como a uma taça de cristal.

Lentos pássaros

Lentos pássaros frios
Que cortam o céu da tardinha
Pintam-no de uma alegria triste.

Passam por nós soberanos
Cheios de plumas e cores
E olhares humanos.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Sorriso

Acerta-me a face em cheio
O doce resplendor (raro)
De um sorriso genuíno
Que deve ter se perdido
Por entre as tristezas do dia.

O assalto

Éramos todos felizes:
Eu, os bandidos,
As armas e o dinheiro

Até que alguém
Teva a brilhante ideia
De apertar um gatilho.

Graça

É engraçado perceber
Que aquelas emoções ali dispersas
São minhas também,
Mas me parecem tão distantes
Como aves abstratas no céu
Ou como antiquíssimos sonhos

É realmente engraçado perceber
O quanto a vida é na verdade
Um grande baile
Uma festa
E eu nem gosto de dançar...

Morangos

Alguém dirá, ou já disse um dia:
- Ainda é tempo de morangos.

Se for mesmo o caso
Avançaremos sobre eles avidamente
E os devoraremos com afã

Na esperança de que seu sutil sabor
Possa aplacar ao menos por um tempo
Os outros sintomas da vida.

Novas filosofias de um felino

Hoje meu gato ronronou
Melancolicamente
Achei que talvez fosse pelas muitas
Tragédias humanas, ou felinas
Que ocorrem hodiernamente no mundo.

Mas nada!
No fim era apenas fome mesmo.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Antigo mesmo tema

Quando sinto que te amo me desperto
E me vejo adormecido sem sua presença

Sinto que as belezas das orquídeas
Passam a ferir-me muito

E também os afazeres do cotidiano
Tornam-se insuportáveis para mim

Quando sinto que te amo me constranjo
Olho para o lado

E vislumbro nítido um vazio triste
Onde deveria estar sempre você.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Mentira

Fora sempre sincero
Sim, orgulhava-se disso

Nunca
Durante toda a vida
Contara sequer uma mentira

Nenhumazinha

E ainda assim
A sua vida sincera
Era uma grande mentira.

Quixotesco

Disseram que sou infantil no que escrevo
Acusaram-me de não ter sensualidade
"acaso não gosta de mulher?"

- Claro, mas há tanto céu, tantos pássaros
- Tantas pessoas, e pessoas dentro das pessoas
- E a beleza secreta das coisas, enfim...
"..."

"mas acaso não gosta de mulher?"
- Claro!
- Lá vai Dulcinéia, a mulher que eu amo
- Rodando, dançando em um moinho de vento.

Nudez

Dulcinéia me disse em confidência
Que ouviu de Pessoa em confidência
Acerca do amor:

Que este para ele e para ela
Não passa de uma ilusão, um traje, uma roupa
Com que cobrimos as pessoas de quem gostamos

Para esconder suas fraquezas e seus defeitos
Fazendo-os parecer diferentes, melhores e mais belos
Do que realmente são

Uma roupa, um traje, uma ilusão...

Que coisa, Dulcinéia, agora eu me sinto nu!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

De repente sós

De repente estamos sós outra vez
O tempo passou
As pessoas passaram
Para onde terão ido?

De repente nós, apenas nós
Nós e a janela
Nós e o céu
Nós e uma nuvem que passa

Mas de repente alguém se lembra de nós
Alguém acabe sempre se lembrando

Então vamos
E deixamos a solidão quieta num canto, conformada
Ciente de que mais cedo ou mais tarde iremos voltar

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Nunca é dia

Nunca é dia quando quero

Acordo sempre de madrugada
Com saudades do sol

Toda aquela escuridão
"será que o sol vem mesmo?"

Saio e me sento do lado de fora da casa
Tremendo de medo e de frio

Até que as primeiras luzes da madrugada
Me surpreendam dormindo.

Filosofias de um felino

Meu gato não tem complicações
Nem teorias
Amoral - se quer abortar, aborta
Esnoba os carinhos com safanões
E não se importa com a louça nem com os metais
É indiferente ao amor do dono
E ao ódio dos cães
(por isso é superior aos cães)
Nunca o vi ajoelhar-se para deus
Nem para o diabo
Ele não está nem aí
Enquanto dizem: isto é certo, aquilo errado!
Meu gato enterra seu cocô e segue
Por isso o admiro tanto
Ele é apenas um gato, nada mais.

A passagem do mundo

E sempre acontece
O mundo pede passagem
Eu fico no meu canto quieto
Olhos extáticos
"A solidão não tem cura"
Penso comigo
Ninguém responde

O mundo com seus sacolejos
De monstro redondo
Espalha poeira e restos de amor pelo espaço

Em algum lugar ou momento
A mente cria uma estrela

Mas o mundo já se foi
Fazer o quê.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Acordar

-Amanhã acordar
- E então espantar-me com o sono
Com os sonhos ou com a falta deles

- Já nas ruas indo ao trabalho
Espantar-me com as próprias ruas
Com a dureza áspera, solitária e triste que elas têm

- Espantar-me com as pessoas nas ruas, são tantas
E estas senhoras com seus carrinhos de feira
Andam a me espantar o tempo todo
Como e quão existem, não é?

- Espantar-me com as luzes recém nascidas do dia
Como eu não havia reparado nelas antes?
E parece haver umas novas tonalidades hoje
Espantoso!

- Espantar-me comigo que penso ser uma coisa
Mas como me sinto diverso!

- Emfim de tudo, com tudo e pra tudo
Tudo em volta espantar-me
Sim
Amanhã acordar...

O Aniversariante

Era meu aniversário
Vieram todos pra festa:
Pais, tios, primos, sobrinhos, sobrinhas, amigos
E até meus falecidos avós acabaram por comparecer

Trouxeram-me muitos presentes
Que pena
Eu só queria um futuro.

Mundo quadrado

Achou que o mundo era redondo
Apalpou-o e lhe pareceu ser assim
Mordeu-o e tinha mesmo tal gosto

Chutou-o, fez e aconteceu com ele
Rolou-se e enrolou-se nele

E se convenceu ser redondo mesmo o mundo

Mas como se iludia, coitado
Pois o mundo, enfim, era quadrado.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O existencialista

Quando sabemos
Que podemos fazer o que quisermos
É quando não sabemos mais
O que fazer.

Beijo

Todos esperavam ansiosamente
Pelo beijo
Mas não houve beijo algum
Houve apenas
O estalo seco da decepção.

Pictório

O céu desta fotografia é tão azul e belo!
E estas nuvens que o emolduram
Dançam, apesar de paradas

Não me importa o céu sobre a minha cabeça
Eu quero
Muito, muito mesmo
O céu desta fotografia.

Caminhar

Caminhemos juntos pela longa rua

Ah! que poesia maravilhosa
É caminhar junto a alguém por uma longa rua
No silêncio brando da existência
Até perder-se de tudo, por completo

Caminhemos, portanto
Juntos pela longa rua
Que se estende dentro do poema

domingo, 21 de novembro de 2010

À memória do homem, que morre

Penso de repente num homem que nem existia
Ou talvez existisse, não sei
E em algum lugar do mundo chegou à sua casa às duas e meia da madrugada
Confuso e cansado, sentou-se à mesa da sala
Nos olhos povoava-lhe o pavor de não existir
Sentiu-se inconsistente, como se fosse apenas uma lembrança
Tentou reconhecer a casa
Pensou que no quarto ao lado
Uma bela esposa deveria esperar por ele envolta em macios sonhos
Mas não teve coragem de conferir
De súbito encolheu-se na cadeira apavorado
Sentiu por um momento que seu mundo todo desabava, estilhaçava-se e se desfazia
Seus olhos pesaram, embaçados pelo sono. Um profundo sono
Divisou algumas manchas preenchendo um quadro na parede, porém sem nitidez
Pensou serem pessoas
Ou paisagens, ou medos, ou sombras, ou dor
Sentia a cabeça pender e a consciência sumir lentamente
Suas pesadas mãos agarravam a toalha da mesa
Mas, sem que ele percebesse, os dedos grossos do homem moribundo
Começaram a tamborilar no tampo uma suave música
Talvez muito antiga, talvez nem houvesse sido composta
Mas era uma melodia realmente bela e plangente
A que suas mão s lançavam ao ar com desespero mudo
Era como um grito, um protesto contra o sumiço lento do homem dentro da noite solitária
No outro dia não o encontrariam, nem o iriam procurar
As sombras do esquecimento iriam de certo devorá-lo
Como a todos fazem cedo ou tarde
Eu não me lembro mais dele agora, sua figura, seu rosto, suas cores acabam de sumir da minha mente
Mas aquela música...
Ainda posso ouvi-la embalando meus sonhos mais tranquilos.

língua Morta

Hoje fui visitado pelos resquícios de uma língua morta
- In Pace Requiescat!

Como é triste a morte de uma língua
Mundos de palavras que com ela tombam
Sentimentos que só em seu seio nasciam
Que só ela traduzia e agora pairam no nada
Pessoas a quem deu à luz, sumiram com ela
Reinos que construiu, sumiram com ela

A morte de uma língua
É como a morte de um deus!

Flores e borboletas

Ah! como somos excêntricos
nós, os pretensos poetas
que mais nos comove
o fenecer suave de uma flor
ou o cessar abrupto
do voo de uma borboleta
que o ceifar cotidiano de milhares de vidas humanas

este nos acomete
mais como um soluço na alma
que um espanto propriamente dito

por isso eu te imploro:
acabe com a humanidade inteira se quiser
mas por favor
poupe as flores e as borboletas!

domingo, 24 de outubro de 2010

Como nasce a poesia

Como nasce a poesia?

Já no peito do poeta
A sua promessa faz-se fato-feto
Fecundo e explosão e prenúncio

Mas de onde vem e de que matéria se forma?
Seria ela o prórpio poeta
A declamar-se por línguas de fogo indecifráveis?

Ou por acaso a boca
Que o deglute e tritura
E grita sempre
E sempre ao seu ouvido palavras incompreensíveis?

Seria então aquilo que ele vê
Além do que ele vê
E que o reflete mundo e imundo
E que lhe fende as retinas e rotinas
E que lhe rompe as múltiplas amarras da alma?

Nasce ela talvez desse encanto
Desse encontro e desencontro
Que ocorre quando o mundo se choca
Contra o mundo confuso do poeta
Nasce talvez do prórpio espanto imenso de nascer

E desse encanto e encontro e desencontro.

Curta Metragem

Atenção!
Em meio à praça
Em meio a luzes e manchas humanas
Que infestam barulhentamente a praça

Da árvore, daquela flor na árvore
Uma pétala cai
Mas não cai, dança com o vento
Só ela e o vento

O tempo passa e a toca
Os sons, as cores confusas da tarde,
Meus olhos passam e a tocam

Mas ela não se importa
Prossegue dançando distraída
Como se nada mais existisse no mundo
Só ela e o vento...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Grito da figueia fronda

Antes do inaudível grito
Grito
Depois persisto suspenso em tecitura curva
Da carne sua saborosa

Suspenso e absurdo grito

Sob galhos de figueira fronda
Entre fragmentos de vida abrasadora
Me estilhaço em brancuras diluídas
E mastigo pomos do desejo

Abaixo
Nossos corpos se dissolvem
Em vis volúpias desveladas
Sobre a relva fresca

Acima
Nuvens cantam canções visuais

A luz do sol explode
Em nossos rostos retesos e repletos
Em nossos corpos curvos e retos
E bocas deglutem essências carnais
Com mordeduras supranaturais

Enquanto um sorriso abafado pende
(Grito proscrito)
Inaudível da figueira fronda.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Existindo a inexistência

Palavras que não existiam:
- Sorribundo, corânico, descabrunhado, síntole

Atos que não existiam:
- Endiar um pranto escuro
- Desrabujar um beiço manhoso
- Esprelongar-se dentro de um sorriso largo
- Caçar notas verdes de melodias inéditas no vento
- Morder uma tristeza no rabo
- Sorrir de fora pra dentro

Motivos que não existiam:
- Pré-pós viver por birra miúda
- Presentear as horas futuras com passos de surpresa antiga
- Coçar o umbigo por vontade de céu

Coisas que não existiam:
- Olhos que veem pessoas nas pessoas
- Sorrisos leves com sabor de brisa
(da manhã do melhor domingo)
- Tardes mais antigas que o próprio desejo das tardes
- Andorinhas-homens (pena não haver)
- Sonhos gratuitos, que sejam reais por serrem sonhos

Sentimentos que não existiam:
- Sensação de cavalos em tropel na tempestade do peito
- Ânimo de ver o invisível dos melhores momentos da vida
- Visão córica, pontiaguda, calafrígida, tremulante
da cor e do sabor
das palavras nunca ditas
pelos olhos gostativos, como os meus.

Poeta incrível-crível

Incrível nas poesias tolas
Crível nas confissões confusas

Incrível nas decisões incertas
Crível em certas indecisões

Incrível nas palavras adejantes
Crível nos olhos de olhar perdido

Incrível na capacidade de expressão
Crível na capacidade de impressão

Incrível como falante
Crível como introspecto

Incrível como corajoso
Crível como covarde (todo poeta o é)

Incrível com ações diretas
Crível cem pensamentos tortos (palavras também)

Incrível com o superficial
Crível com o denso mistério de dentro

Incrível com o que se vai do momento
Crível com o que fica (poetas poesias ficam)

Incrível com o que diz sem querer
Crível com o que quer dizer (e nem sempre diz)

Incrível como poeta incrível
Crível como poeta, crível...

Verdade

É triste ser o único a se ver
como se queria ser.

sábado, 11 de setembro de 2010

Deserto

Hoje sinto-me amplo
Quase consigo abraçar o mundo
mas não
não sou assim tão piedoso

Tenho sentido um gosto escatológico
na boca
e meus olhos andam cheios de rancor

Ontem tive medo de me apaixonar
desviei os olhos de você
hoje temo me odiar e já não olho nada

Lembro-me de algumas notas verdes
que eu ouvia antes
agora estou surdo e mudo para o verde

O vento da tardinha me estraçalha mudo
e um grande desespero me acalenta
ainda assim sinto-me amplo
amplo e árido como um deserto.

Aquele homem que passa

Aquele homem que passa
deve se chamar Tadeu
penso que sim
deve ser casado
pai de duas filhas
Uma loura, de olhos azuis
Outra negrinha, bem negrinha
do sorriso bom

Ele gosta de futebol, eu sei
joga nos fins de semana
passeia com a família na praça
nos fins de semana
Tem um gato
Pensa na tristeza dos que não possuem gato
Eu não tenho, não sorrio
Sinto inveja dele.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Noite

A noite embalsama meus sonhos
Escorre
Como um filete de sangue negro
Do ferimento profundo
Que o céu provoca em meus olhos.

Imenso

Ser pequeno
E caber dentro de uma vida
Ser imenso
E caber dentro de um poema.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ALEGRIA RACIONADA

Essa escureza na alma
Esse brandir desesperado
De asas mortas
Voo que não voa
Esse mastigar de solidões
Ruminar de desesperos futuros
Essa busca da busca
Do motivo da busca imotivada
Essa secura imensa
Na garganta e nas retinas...
- Maria, vai ver o registro,
Acho que cortaram a alegria outra vez!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Eu quero ser um vale

Eu quero ser um vale
Que se estenda longamente
Aos pés de íngremes montanhas

Oculto do verde das árvores
Dos pássaros canoros e das flores

Abrigo de animais perdidos
Árvores secas
E aves que não cantem

Abrigo de sombras
Em que nasçam e morram
Mistérios intocados

Distante de todo e qualquer ser humano
Tão distante
Que nem mesmo a imaginação confusa
De um tolo poeta
Possa me encontrar.

sábado, 26 de junho de 2010

Como é difícil ser eu

E de repente estas criaturas desconhecidas
Que fulguram no invisível
Assumem aspectos meus

Invadem a minha casa
Comem minha comida
Sonham meus pesadelos
Pilham minha tristeza - tudo que tenho

Mas logo irrompem como loucas
E saem às ruas gritando e chorando
As mais sensíveis se matam...

Como é difícil ser eu!

Carta aos que me veem passar

Não se preocupe comigo
Cuide-se apenas
Da minha vida o acaso cuida
E muito bem

Não sinta pena de mim
Caminharei
E embora não conheça a direção
Sei o destino

Não se detenha em sua vida
Pra me ver passar
Nada adianta
Eu passo melhor sozinho
Como um passarinho

Outro Eu

Talvez um dia eu me torne outro
Ande com minhas outras pernas
Por aí
Espalhe outros sorrisos
A pessoas que certamente não me reconhecerão

Talvez eu escolha outra profissão
Case com outra mulher
Tenha outro nome
Funde outro reino, seja Rei

Talvez então numa manhã qualquer
Eu me admire no espelho
Com saudades do que sou agora.

Veredicto

Culpado
Com toda a razão
Pois diante dos teus olhos
Toda a razão
Se desfaz.

De Repente

De repente estamos sós outra vez
O tempo passou
As pessoas passaram
O ímpeto, a paixão, o fogo, a juventude
Para onde terão ido?

De repente somos nós, apenas nós
Nós e a janela
Nós e o pôr - do - sol
Nós e uma andorinha, e o céu, e as nuvens
O mundo parece ter mesmo parado...

Mas alguém de repente nos chama
Alguém sempre se lembra de nós
E tudo volta ao normal
Deixamos a solidão quieta num canto
Conformada
Ciente de que mais cedo ou mais tarde
Iremos voltar.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Desencontro

É triste pensar
Que poderíamos ser
Os melhores amigos
Namorados
Cúmplices
Admiradores mútuos
Mas não nos conhecemos.

Pescador de sonhos

À tardinha
Admirando a lagoa
Que reflete o céu
Em algum lugar do mundo
Um homem pesca meus sonhos.

Ironia

A Lei sempre tenta
Pichar-nos às mentes
Palavras de ordem.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mundo Imenso

Diante do mundo imenso
Meus olhos pequenos
Gritam sem eco
Na solidão do meu ser.

Verdade Amordaçada

Nos momentos de verdade amordaçada

As lágrimas passam a não ter motivo
E o medo de viver traz morte antecipada

Nesse momento tudo que dissermos
Ou fizermos, ou formos não diz nada.

Algo em mim

Algo em meu ser melhor que eu
Acorda
Sempre que adormeço

E te sorri pra mim
Feliz
De dentro dos meus sonhos.

Alegrias

Recolho alegrias mortas
Em cada chance perdida
De te dizer que te amo.

Fato

Sempre
Que preciso das manhãs
É tarde.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Frio da Noite

Diante do frio
Soturno
Que se debruça em meu mundo
Os olhos tristes da noite
Choram
Estrelas cadentes.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Percepção das Coisas

Meus olhos
Enfim descobriram
Que a grande beleza das coisas
Não está nelas apenas
Mas nas outras
Que nascem ocultas em nós
Quando as vemos simples
Como devem ser.

Os Sóis

Debaixo do sol
E de toda ingratidão humana
Nascem-nos
Uns sóis tremeluzentes.

Cartas de Amor

Envio cartas de amor
A pessoas desconhecidas
Perdidas pela cidade

Não tenho muito critério
Apenas escolho um endereço na lista
Um número, um nome que me agrade
E as envio

Nunca obtive resposta
A minhas correspondências

Talvez por não haver palavras verdadeiras
Nas cartas
ou por não haver sentimentos genuínos
Em mim.

Mudar o Mundo

O poder para mudar o mundo
Escapa de nossas mão distraídas
Enquanto paramos
Para cumprimentar o descaso.

Promessas

Há umas promessas vagas
De beijos impetuosos
Nos cantos
De seus pequenos
Belos lábios sorridentes.

Solidão

Uns restos de horas mortas
Amontoam-se debaixo do tapete da sala
A tarde agoniza como eu
Mas meus gritos de socorro
Quem os ouviria?
Não há mais ninguém no mundo
Não há mais ninguém em mim.

Incoerência

Se você
não tentasse ser quem eu procuro
E fosse apenas quem é
Eu com certeza te amaria.

Mediocridade

Se as coisas
Nos parecem
Assim tão boas
Nossa mediocridade
Deve ter prevalecido

Acerto de Contas

Quero encontrar comigo
Dia desses nas esquinas
E me cobrar
Antigas promessas de felicidade
Eu que me julgava honesto com os outros
Sempre menti pra mim mesmo.

As Sombras

As sombras dos meus pesadelos
Me assustam
Não por me chamarem
Mas por, às vezes,
Eu desejar muito ir.

sábado, 17 de abril de 2010

Amar

Amar
é lançar-se
sem paraquedas
no ar.

Porto Seguro

Quando meus lábios
encontrarem os seus
em meio à tempestade
e ao caos
que nos toma
eu, marinheiro perdido,
terei finalmente encontrado
meu porto seguro.

Noite Estrelada

Olho pro céu sem limites
perdido na noite estrelada
e me limito a sorrir...

Carta de Amor

Há anos aguardo
resposta
à carta de amor
que se lê nos meus olhos.

Hoje

Hoje
quando os últimos raios de sol
da tarde
tocarem seu rosto
e quando os sonhos invadirem seus olhos
junto com as estrelas
e todas as palavras convergirem ao silêncio
lembre-se de que eu te amo.

A Partida do Trem

lembro-me dela
naquela tarde fria
sorrindo pra mim
de tristeza
quando o trem partiu
e desde aquele dia
tenho a nítida impressão
de que mesmo antes de haver trem
e mesmo antes de haver Mundo e Universo
ela já estava sorrindo pra mim
ela sempre esteve sorrindo pra mim
de tristeza.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Reflexão

Há sempre uma voz oculta
no silêncio aparente
das palavras
que nunca foram ditas
mas que dizem tudo.

Surpresas

Hei de surpreendê-la com um beijo
um dia desses quaisquer
inesperadamente

Quando ninguém mais ligar pra nada
e todas as declarações de amor
estiverem obsoletas

Quando nossas vidas se mostrarem tão chatas
que nos dê vontade de morrer
hei de beijá-la nos lábios
de forma arrebatadora

O que certamente há de acelerar seu coração
e fatalmente parar o meu.

Madrugadas

As madrugadas gritam
na solidão
dos que ouvem em silêncio
mas não possuem resposta.

Descaminhos

Por quê...
há tantos caminhos a seguir no mundo?
desse jeito
nunca hei de te encontrar...

A cor dos teus olhos

Que pena o céu ser azul,
a vida seria mais bela
se ele talvez fosse assim:
Castanho, da cor seus olhos.

As poesias abaixo são de meu grande amigo, Evandro Moura. Muita honra tenho em poder publicar tão lindas palavras em meu blog.

Poesia de Evandro Moura - Dia de Primavera

Sinto o exalar de frescos aromas
Do cio de virgens flores

E a travessia amena do Rei
Faz promover inspiração
A quem tem um pouco de poeta

Mas lá pelas tantas
Enfadonhas já se tornam as palavras

Então os grilos
Os olhares
E as mãos
É que passam a falar.

Poesia de Evandro Moura - Realidade Avessa

Vejo as coisas
Como deveriam ser
Vivo espantado!

Poesia de Evandro Moura - Azar

Somos dos ímãs o polo mesmo

Somos a mesma face da moeda
Chance perdida
De sempre vitoriosos sermos

Somos vítimas algozes
Capazes de dar a vida
Um pelo outro

Somos com toda a certeza
As profundezas
Deste nosso inferno imposto

Poesia de Evandro Moura - Platônico Amor

Reclama meu espírito à falta
Daquela
Dona das palavras mais doces
Da graça que não me deixa saber
Onde fixar o olhar

Ele reclama a mim com razão
Pois careceu sempre da sua presença
E quer tocá-la aos cabelos
Quer abraçá-la
E beijá-la

Questiona-me a todo instante:
- Onde ela está?
Espero algum dia lhe responder.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Manhãs de sol

Dias chuvosos e cinzentos
como hoje
são propícios a cidades grandes
ricas e tristonhas
esta tão pacata e minha
só combina verdadeiramente
com manhãs de sol.

Voar

Talvez um dia
antes do trabalho
quando a atmosfera
da manhã suspensa
dança sobre os campos vicejantes
e sorri
eu, ave sem asas,
finalmente voe.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O nosso sangue

Descobri
que todo sangue humano derramado
em qualquer lugar do mundo
e por qualquer pessoa
é meu também.

Sobressalto

Sobressaltei sentido
ao perceber que eu sou
um pedacinho de nada
que mora dentro de tudo.

In Verdades

Você não precisa dizer-me a verdade
você só precisa dizer
que se importa comigo.

Ingenuidade

Acredito nas pessoas
quando dizem que me amam
sem nunca terem me visto
com eu realmente sou
as pessoas
são ingênuas mesmo.

O futuro

Enquanto você lê nosso futuro pelas nuvens
e eu cuido das flores
tristes do jardim
a filha que não temos
ri ao vento
a nossa filha perde-se no fim do mundo
enquanto você tece sonhos
sobre as nuvens
e eu procuro flores mortas no jardim.

Insensatez

Denuncio aqui
a grande insensatez da vida
que tingiu meus olhos
com matiz sisudo e grave
justo eu
que tanto quis sorrir...

terça-feira, 23 de março de 2010

Dilema

Meu amor é meio dúbio
mas estou entre você
e uma caribenha fogosa...

Poema escatológico

O Poeta não quer que o Mundo acabe
ele só quer que o seu mundinho
exista.

Poeminha socialista

Sou um poeta de esquerda
mas como não tenho posses
eu distribuo palavras carinhosas
a quem precisa de afeto.

O esmagador de moscas

Às vezes eu esmago moscas
para me sentir maldoso
não que eu o seja de fato
faço apenas pra não me perder
de minha natureza humana.

Velhos cães

Aprendi com os velhos cães
perdidos de minha cidade
que o acaso geralmente favorece
quem opta por ser humilde.

sábado, 20 de março de 2010

Vendedores de doce

uns homens desconhecidos
que passam vendendo doces
na minha rua
lançam-me olhares amargos.

Luzes de Primavera

Os primeiros raios de sol
das manhãs de Primavera
rompem os portais do Céu
em cintilações de tal beleza
que mesmo Deus às vezes
se impressiona
infelizmente nós homens
não temos tempo pra isso.

Mãe

Ah, minha Mãe!
esse disfarce pacato
que a senhora usa
não me ilude mais

Eu posso sentir
claramente
sua verdadeira essência
oculta nas entrelinhas
da palavra Amor.

Ao Término de Tudo

Quando tudo estiver terminado
feche meus olhos com calma
e mergulhe meu corpo inerte
na paz do silêncio denso
depois simplesmente me esqueça.

A Flor

Queria que meu pai estivesse aqui...
todos os pais e todos os filhos
todas as pessoas do Mundo enfim
deste e de qualquer outro
e de qualquer época, de todas as épocas
pra verem comigo
que nasce uma flor verdadeira
nas falsas promessas
que o dia nos dá.

Pressinto

Pressinto que quando meus olhos
gulosos tocarem o Mundo
embora que em mínimas coisas
nas raras manhãs de Domingo
então tudo há de ser diferente.

Interlúdio

Há sempre um soluço enroscado
nas tardes ocultas
das manhãs.

A Espera

A espera angustiante
pelo momento correto
pra dizer todas as palavras
belas
que te trariam pra mim
é que me faz ser calado.

Realidade

Se a realidade atual
escapa de alguma forma
da forma que você quer...
invente alguma qualquer.

Apontamentos

Alguns Homens
perceberam há tempos
que as coisas mais importantes
da vida
existem apenas nos sonhos.

Indagações

Como pode o Homem
com tanto por fazer
por aprender
por conhecer
viver tão pouco?

Nossos tempos

Nos tempos em que vivemos
de paz calada e ilusória
as almas são brancas por conveniência
e negras por vocação.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Autoinspeção

Gente como eu
tem o costume estranho
de olhar pra dentro de si
sorrindo desesperado
por não compreender o que vê.

Busca inglória

Há no mundo
os que buscam como loucos
o sorriso inatingível

Outros esperam por ele
obstinadamente
podemos vê-los em sua fé inabalável
em vários lugares
sentados em suas varandas
ao entardecer

Eu simplesmente me calo enfezado
fingindo que não o quero.

Encontro

Talvez um dia
andando perdidos no mundo
os nossos olhares confusos
se encontrem
provavelmente riremos
de dentro da ignorância
pura
dos que se amam sem saber

Atuações

Peça mais estranha
que esse nosso tempo
de viver não há:
abrem-se as cortinas,
dá-se início ao ato...
mas nossos papéis
parece-nos que sempre, sempre
estão trocados.

Enigmas

Busquei novas soluções
para os meus velhos enigmas
e vi
que as minhas ilusões não morreram com o tempo
apenas mudaram de nome.

Tua Alma

Mirei tua Alma
ao entardecer
e ela me refletiu
bela...

terça-feira, 16 de março de 2010

Auspícios

Espero que estejam bem
aqueles que se percebem
predestinados à falha
mas que conseguem tentar

E aqueles que se percebem
predestinados ao pranto
mas que conseguem sorrir

E aqueles que se percebem
predestinados à morte
mas que conseguem viver

Flores de aço

Que vocabulário estranho devo usar
pra convencer os homens de bem
de que estas flores de aço
que nascem no nosso peito
devidas aos tempos modernos
não se alimentam de sol, mas de sangue?

Tributo à Poeta Ana

Não deixes de cantar
O teu poema perfeito
Ele que na noite de minha alma
É como o sol
Que aquece tudo em torno
E me enternece
E permanece posto em mim
Pra todo o sempre

Coração Peregrino

Meu coração paira no ar tranquilo
sobre mares
e direções incertas
e destinos vagos

Vem a noite
mas meu coração paira no ar alheio
o vento e as aves vão
e desce o sol no horizonte
e some

E só meu coração
e só...
meu coração paira no ar pra sempre.

Insânia

Agora que sou só eu
contra tantos que eu não sou
percebo por entre as frestas
da minha insânia a festa
que fazem os muitos eus
que eu nunca cheguei a ser.

Precipitação

Sou mesmo muito precoce:
Às ruas dizem-me: - Olá...
Às almas eu digo: - Adeus...

Apontamentos sobre o Amor

Não há manuais para o amor
Não há escolas
Cursos que te ensinem a vivê-lo
Sequer existem normas, regras, convenções...
O amor é o Caos...

Ocultismo

Apenas uma coisa existe
e está oculta,
todas as demais são ilusões.

sábado, 13 de março de 2010

Sentenças

A garganta
é sempre muito seca

O nó
é sempre muito forte

O dia
é sempre muito curto

O sonho
é sempre muito vago

e o caminho
sempre muito estreito

Ainda assim caminhamos.

Epitáfio

Nada que dissemos há gravado:
Pedras tumulares não aceitam giz.

O velho e o cão

O velho e o cão caminham pela noite
escura bosque adentro sem destino

Dormem sob o manto das estrelas
e confabulam missões impossíveis

Para onde vão? Seguem apenas
em busca do Horizonte que não podem ter.

Geringonça

A máquina da minha vida está enguiçada:
roda, roda, roda
mas não sai do lugar.

Manifesto

Decidi não ser calado
enquanto meus amigos vendem lealdade
enquanto meus sentidos de justiça falham
e os corpos prostituem almas nas esquinas

Piratas pilham nossas horas mortas
e a apatia extrema nos reduz ao quase
ainda assim eu decidi não me calar
porque sinto que há sangue e fogo nos soluços

Coito

O Macho
A Fêmea
O ato
A expulsão
E o paraíso.

Destino incerto

Que fazer...
quando todas as portas estão fechadas,
e o soluço amargo prenuncia o pranto?
Quando a incerteza do caminho é tanta;
Quando é tanta a raiva por não ir?

Que fazer quando os olhares ferem,
e nossas certezas se evanescem?
Quando o chão atrai nossa existência;
Quando o mar vermelho não se abre?

Que fazer quando o sorriso é falso;
Quando é falso todo o sentimento?
Quando a espera torna desespero;
Quando o sonho acaba no Horizonte?

Que fazer quando não há mais porta?

Expiação

Cometi o terrível crime
de pretender ser melhor
agora estou condenado
à solitária existência...

Pérfido perfil

Não vou discutir
o grande mistério
por trás do perfil da maçã
que cobre meu rosto
pintado no quadro que sou
mas tenho certeza
que atrás da maçã
que cobre meu rosto
meu rosto de fato
não há.

O itapevense

O itapevense
como qualquer ser humano
procura desesperadamente
por entre as frestas das horas
o derradeiro sorriso
que o turbilhão da vida
lhe roubou.

Cobiça

Eu sempre, sempre fixo quem não possuo
o olhar firme e generoso
o sorriso inefável
de quem não possuo
mas eu
teimoso que sou
visionário e tolo que sou
sempre, sempre fixo quem não possuo
e sempre me flagro querendo você.

À Lou

Adorei a poesia doce
descrita por sua forma branca
contra o sol
compreendi totalmente
todos os paradoxos incompreensíveis
que te explicam
agora sei exatamente quem é você
e não sei mais quem sou eu.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Migração

Hoje meu mundo girou
por direções diferentes
quando eu menos esperava
e no baque violento
das novas transformações
meus medos se emanciparam
e eu me perdi pelo espaço.

Mentiras

Mas espere...
enquanto passa o tempo mau
deixe eu lhe dizer verdades inquestionáveis
deixe-me niná-la, acalentá-la
ao som de promessas vazias
seus olhos inquietos
procuram respostas em vão
seus olhos
vertem lindas lágrimas de esperança
a noite negra há de passar
espere
aceite um café, um beijo
um amor sem escrúpulos
que te ofereço
afinal
é apenas mais uma mentira...

Momentos

Os melhores momentos da minha vida
ainda estão por vir
eu os aguardo a tempos ansiosamente
aguardo ansiosamente o dia
em que sorverei todo o brilho
magestoso dos teus olhos
e te pegarei pelas mãos
acariciarei tua alma
ao dizer sinceramente o tanto que te amo
então sumiremos
e nos perderemos no momento doce
este que será o melhor de toda a minha vida.

A Tarde

A Tarde avança
como bonde ruidoso
as luzes de alerta não piscam
mas pressinto na calma ilusória
que a qualquer momento irromperá
como louco o aviso
de que meus desejos mais preciosos
jamais serão atendidos.

O peso do Nada

Admiro aquele
dentre nós
que debuta os dias,
guia os destinos todos
e chancela os poucos sins
e os muitos nãos.

Muito estimo aquele de nós...
que carrega as cruzes todas,
todas, sem excessão,
enquanto os demais apenas reclamam
do imenso peso do nada

Ver-te

Ver-te
sem poder te tocar
ao menos de leve
é como estar no inferno
olhando pro paraíso.

Poema rebelde

Em uma capela abandonada
badala um sino solitário
quase como uma prece
por minha alma moribunda
prestes a falecer
mas entre olhares suspeitos
de homens desconhecidos
navega um anseio vago
que me mantém acordado:
talvez no dia de hoje
gente como nós
que sorri manso
e que não pensa
só faz
num rompante de ousadia
consiga aprumar a face.

Cardiofagia

Uma andorinha escapou de seus olhos
apanhou meu coração com o bico
e foi devorá-lo no espaço.

Adeus

Meus últimos bons sentimentos
somem à luz da tarde
despeço-me deles
com olhar grave e calmo
enquanto afundam sorrindo
no abismo fascinante
e mortal
dos seus olhos.

O Fim

Coloque uma cruz vemelha
no ponto exato
onde cessarem as marcas tortuosas
deixadas pelos meus passos
sobre as areias do tempo.

Visão

A tua figura perfeita
embebida nos raios dourados
de um sol preguiçoso
das tardes de outono
inunda meus olhos
e toma um por um meus sentidos.

Realismo trágico

Eu não amo ninguém
nunca amei
e talvez jamais ame
mas quero morrer declamando
um poema de Amor.

Anacrônico

Estou perdido no tempo:
parte de mim no passado,
parte de mim no futuro
e meu presente vazio.

autoignorância

Quem sou?
pergunto ao vazio
frio
que me preenche
e as palavras uma a uma
mergulham no precipício
que é meu sonho terminal
do qual
não encontro
o início.

Caminho

Caminho na escuridão
da estrada que não tem fim
vejo meus passos futuros
morrerem na terra fria
sei que a inconstância me guia
mas vou seguir mesmo assim:
perdido dentro de mim.

Essência

Junto da tarde que vai
meu corpo angustiado cai
mas eu, essência, flutuo.

Verborragia

A Pena feriu
minha alma de leve
num ponto vital de poeta
e no espaço
jorraram palavras vermelhas.