quarta-feira, 30 de março de 2011

Só você, poetisa

Só você, poetisa

Que me tira a órbita
O lugar comum
Que me põe em xeque
E me desconcerta
E me desconstrói

Que me tira o fôlego
Me devolve o fôlego
Dando-me palavras
E me mostra a angústia
Oculta, disfarçada
Do cotidiano

E me traz de volta
Deste algum lugar
Que é lugar algum

Me desmistifica
Me despequeniza
E me torna homem
E me torna ave
Me devolve as asas
Me devolve o ar

Só você, poetisa,
Por poetisar.

Sou um instante que passa

Sou um instante que passa
Silêncio absurdo e também grito

Amanhã serei outra coisa
Depois de amanhã serei nada
Mas agora aqui sou um instante

Lá fora as aves cantam
E os carros buzinam
E as pessoas atravessam aos sinais abertos
E param aos sinais fechados

As pessoas seguem de mãos dadas
E vão para a escola e para o trabalho
E antes, e depois pintam seus amanhãs

As pessoas são todo certezas
Quanto a mim, sou só um instante
Imenso em minha pequenez, vago vazio

Preparo-me ao que virá depois de mim
Mas sem expectativas
Os instantes nada sabem, apenas passam.

terça-feira, 29 de março de 2011

Solução

Amo-te pela tua ausência
Se estivesses aqui
De certo eu te amaria pela tua presença

Amo-te pela tua insegurança
Se estivesses segura
Por este motivo eu te amaria

Meu amor não é certeza, é condição

Amo-te porque sai o sol, por se por o sol
pelos becos com saída
pelas razões irracionais

Amo-te sem motivo algum
Meu amor não é questionamento
É solução.

sábado, 26 de março de 2011

Palavras

Não tenho palavras
Custa-me dizê-lo
Mas eu estaria mentindo se alegasse o contrário

As aves
Com suas asas a dobrar o espaço

As flores
Com suas cores e formas exuberantes

As ruas
Que levam e trazem pessoas sem destino certo

Os muros
Com suas tristezas secretas de tinta e cal

Todos esses possuem as suas palavras
Que não dizem nada
Mas ainda assim dizem tanta coisa aos que lhes prestam atenção!

Mas eu
Que me considero herdeiro de toda a eloquência humana
Só possuo rabiscos inexpressivos

Palavras, palavras de fato
Que valham a pena serem ditas e ouvidas
Que digam algo além de sua superficialidade léxica
Das tais não possuo nenhuma.







sexta-feira, 25 de março de 2011

Fatalismos do cotidiano

Eu estou aqui querendo tanta coisa,
Mas tanta coisa nunca está aqui!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Violão

Apenas toque seu violão
Para eu ouvir tranquilo

Enquanto as horas se escondem nas lembranças
Enquanto nos tornamos velhas crianças

Enquanto tudo passa a ser, nascer, des-sendo
Apenas toque seu violão
Para eu seguir vivendo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Revérbera

Apenas eu ouço os ecos
Dos gritos que jamais dei.

terça-feira, 15 de março de 2011

Com certeza

Esperar

Pelo que desejamos tanto,
O que nos tira o sono e nos traz os sonhos,
O que nos faz mover a máquina chamada coração?

Esperar por você? Com certeza, sempre!

sábado, 12 de março de 2011

Algumas coisas

Coloque uma coisa na sua cabeça

Os olhos nos meus olhos
As mãos nas minhas mãos
Os lábios nos meus lábios

Motivo nos meus sonhos
Tom nas minhas notas
Paz nas minhas guerras

Coloque a cabeça no meu ombro
O corpo nos meus braços
Vida nos meus dias

Coloque uma coisa na sua cabeça...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Das Declarações

Você me disse que as mulheres não gostam de declarações,
Não sei se é o caso...
Não julgo conhecer os desígnios femininos,
Seus interiores, suas inclinações e preferências,

Mas talvez você tenha mesmo razão,
E nós homens é que não saibamos nos declarar
E também os valores por trás daquilo que se declara
não sejam devidamente expressos.

Ou talvez o sejam mas não tenham tanta importância...
Quem sabe aqueles que se declaram sejam os tolos
Mas então como se fica sabendo o que uma pessoa sente?
Como se lhes apreendem as intenções?
Como se lhes compartilham as vontades?
A que subterfúgios, geringonças, métodos,
Aparatos, traquitanas, dispositivos recorrem as mulheres
para saber o que sentem a seu respeito os homens?

A que feitiços, mandingas, trabalhos, preparos,
Amuletos, diademas, orações, conjuramentos?

Talvez você esteja certa,
E aquele que se declara devesse ficar calado,
Como talvez ele devesse ficar calado diante da luz do sol,
Da beleza das flores, do canto dos pássaros, da brisa suave,
Do murmurinho dos riachos, e de tudo que o apraz a vida.

Mas eu acho que não vale a pena,
Se não podemos gritar os nossos sentimentos,
Cantá-los, irradiá-los, sorri-los, senti-los com olhos, toques e almas
então não sei se vale a pena amar!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Pessoas

Quem são as pessoas
por trás dos olhares,
além dos sorrisos,
aquém dos desejos...

perdidas no mundo,
perseguindo sonhos,
tecendo verdades ingênuas,
cansadas de tudo,
cansadas de quase,
cansadas de nada...

compondo canções,
com gestos singelos
esperando o ônibus...

(esperando a vida!)

por trás destas máscaras,
por fora dos âmagos,
por entre as alíneas...

quem são as pessoas no espelho?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sempre errando

Não é fácil abrir o coração
Despir-se de todo o orgulho
Toda a mágoa adquirida
Por palavras e negativas anteriores

Não é fácil despir-se de toda a proteção
Mesmo que enganosa
E se mostrar vulnerável

Não é fácil voltar
Depois de ter sido expulso, enxotado
E depositar sua vida nas mãos de outra pessoa

E se expor
E expor todos os seus sentimentos
Estar disposto a fazer todos os sacrifícios
Estar disposto a transpor todas as distâncias

Sem nem mesmo saber se há alguma coisa lá

Viver assim errando, errando...não é fácil.