terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Procura

Às vezes

A procura

É onde nos encontramos.

Ainda existe


Porque ainda existe

Entre uma obrigação e outra
O momento

Entre uma parede e outra
O céu

Entre uma lágrima e outra
O sorriso

Entre um desejo e outro
A liberdade

Entre uma batalha e outra
O descanso

Entre um engano e outro
A verdade

Entre um grito e outro
O sussurro

Entre um espasmo e outro
O carinho

Entre um desencontro e outro
O amor...

domingo, 25 de dezembro de 2011

Fila

O Mundo é uma fila imensa:

Muitos à nossa frente,
Tantos atrás de nós,

Ninguém, porém, do nosso lado.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

É isto o homem? (fragmento) - Primo Levi


“Aqui estou, então: no fundo do poço. Quando a necessidade aperta, aprende-se em breve a apagar da nossa mente o passado e o futuro. Quinze dias depois da chegada já tenho fome regulamentar, esta fome crônica que os homens livres desconhecem; que faz sonhar à  noite; que fica dentro de cada fragmento de nossos corpos. Aprendi a não deixar que me roubem; aliás, se vejo por aí uma colher, um barbante, um botão dos quais consiga tomar posse sem risco de punição embolso-os, considero-os meus de pleno direito. Já apareceram, no peito dos meus pés, as torpes chagas, que nunca irão sarar...Empurro vagões, trabalho com a pá, desfaleço na chuva,tremo no vento; mesmo meu corpo já não é meu; meu ventre está inchado, meus membros ressequidos, meu rosto túmido de manhã e chupado à noite; alguns de nós têm a pele amarelada, outros cinzenta; quando não nos vemos durante três ou quatro dias custamos a nos reconhecer.”

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Confissão

Não sei se devo te dizer...
Mas eu te digo:
É estar sozinho
Não estar contigo!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

The Soloist

The soloist

- És um morador de rua?
- Não.
- Sou um habitante de nuvens!

domingo, 11 de dezembro de 2011

Não facilite as coisas para mim

Não facilite as coisas para mim
Não vale a pena

Inventar soluções de descontinuidade
Perder a expressão de espanto
Em meu rosto
Espanto pela falta de que se espantar

Perder a fuga do meu olhar
Pela tangente
A fuga do meu olhar para lugares
Onde o meu olhar não cabe, não basta

Pois ele não basta

Não facilite as coisas para mim
Descrevendo-me
O horizonte
Além das minhas possibilidades
Deixe-me buscá-lo,
Perder-me a buscá-lo, que seja

Que seja o que se deseja
O que quer que seja o que se deseja

Não facilite as coisas para mim, eu peço,
Deixando a luz acesa
Não busque iluminar os meus escuros ocultos,
As minhas trevas possuem luzes próprias
E as minhas luzes possuem trevas, precisam de trevas
Para serem luzes

Não me diga o que há além dos muros,
O que há além das ruas,
O que há além dos dias, da vida...
Deixe,
Deixe que eu transponha meus próprios oceanos,
Cabos de tormentas,
Deixe que eu funde meus portos, ou que eu me afunde neles,
Ou que eu caia em meus próprios precipícios

Não me estenda a mão
Deixe que eu aprenda a andar,
Que eu descubra meu próprio caminho

Não facilite as coisa para mim
Com seu carinho.











sábado, 10 de dezembro de 2011

O que dura

Tudo que dura o bastante
Para fazer sentido
Deixa de ser o que era
Antes de ser compreendido.

Não se mate (Carlos Drummond de Andrade)



Carlos, sossegue, o amor

é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.


Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.


O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê,

Pra quê.


Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Poema opcional

Possuímos escolhas,
ou elas que nos possuem?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Só para você saber


Só para você saber
Eu não faria nada
E eu faria tudo
Eu declamaria todos os versos
Eu ficaria totalmente mudo
Eu riria do que não tem graça
Eu aceitaria toda
E qualquer desgraça
Eu cometeria todos os pecados
Ou me tornaria totalmente santo
Só para você saber
E nunca duvidar
Que eu te amo sempre
E tanto!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ícaros


A tarde cai
Ou nós é que caímos com a tarde?

O sol se eleva
Ou nós é que elevamos o sol?

Seríamos
Com nossas asas de cera
Ícaros deslumbrados
Por este imenso farol
Que não existe?

A chuva cai
Ou eu é que sou triste?

O meu mal


O meu mal
É que sinto
O que vejo
Ao contrário

É que tenho
Preso
Dentro do armário
O meu próprio monstro
Solitário.

Polissemia


O ato de significar
Outras coisas
Uma mesma coisa
Chama-se polissemia

E eu sou um polissêmico
Epidérmico
E eu sou epidêmico
Modérnico

Disseminando
Inseminando
Polisseminando

Poesia