sábado, 29 de dezembro de 2012

Pessoal


As pessoas são altas magras baixas gordas feias bonitas grandes pequenas...importantes, mas sem importância. Elas andam pelas ruas e se esbarram se espremem se cospem e se lambem se lembram e se esquecem no ônibus no caminho no carinho na ofensa na pergunta na resposta no antes no depois.

As pessoas dormem e acordam e desacordam e brigam e se entendem...as pessoas estão dentro e fora, estampadas nos rostos nos olhos nas lagrimas nos sorrisos nas lembranças nos erros e acertos, nas vanidades no luxo no desperdício de pessoas.
Estão indo e vindo ficando estando lendo descendendo ascendendo, descobrindo o fogo, a roda o amor o ar a neve o calor e o frio e o cansaço do abraço dado ou negado de todos os dias interminavelmente.

As pessoas estão cansadas ansiosas apreensivas expectantes perdidas e achatadas pelas pedras do caminho.

As pessoas colecionam coisas, anseios, pensamentos, pré-conceitos, amores, ódios, inícios, fins, justificativas...co-lecionam pessoas. Estão nas sarjetas, nos olhos das ruas, nos bares, nos lares desfeitos refeitos enfeitados com telas de “LSD”. As pessoas vendem e mendigam a si mesmas. As pessoas estão em todos os lugares e em lugar algum, sabem precariamente o que esperam o que valem o que querem o que são: são pessoas! Seja lá o que isso queira dizer.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Sala

acolho as lembranças, escolho as memórias
os bacanais solidários da minha mente
coleciono presentes no meu passado

(colcha de detalhes, chuva de retalhos)
o espelho espalha a minha superfície torta
pela casa inteira, pela vida inteira

(o passado enferruja minhas lembranças, que pesam)

momentos que nunca tive, amontoados
na minha sala de estar.

(e o espelho a mentir sorrisos pro meu olhar)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Palavras

Palavras escritas não são palavras faladas
Palavras cantadas não são ditas

Até as orelhas dos livros ouvem o toque das mãos

As palavras adormecidas, não.

Palmas


Se minhas mãos não estivessem tão ocupadas
Tentando segurar a vida inteira
Eu bateria palmas pra palmeira.

Tudo um pouco

O vento penteia o cabelo das árvores
Com os dedos

A chuva tropical tropica e cai

Um som assoma

Um passo passa

E a solidão dos abraços me abraça.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

sobre mim

sobre mim
mares de estrelas sem fim
e em algum lugar
o fim do infinito.

Ismália


Queria a lua do mar.
Queria domar a lua.
Queria mirar o céu.
Queria selar o mi.
Queria tocar o sol.
Lá dentro do fá de si.
Queria espalhar-se, espelhar-se.
Queria Ismalhar-se lá.
E labirintou-se aqui.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

nosso


O que é nosso?

Se apagarem a luz do mundo por algum tempo e formos obrigados a sair, às escuras, à busca do que nos pertence (?) encontraríamos o que é nosso, reconheceríamos? Pelo tato saberíamos diferenciar nossa poltrona, nosso prato, nossa cama, travesseiro...? reconheceríamos a fisionomia dos nossos entes queridos, os reconheceríamos pelo cheiro, como tantos outros animais? Encontraríamos nossa rua, nossa casa pelo escuro das coisas?

Se nossos sentimentos fossem amontoados, misturados com os sentimentos de milhares de outras pessoas e nos fosse permitido fuçar aquele monte, saberíamos reconhecer quais eram os nossos?

Será que sabemos dizer com certeza, dentre as memórias que nos habitam, quais são nossas de fato e quais são emprestadas, inventadas, implantadas ou roubadas a outros?

Se eu procurar bastante, não encontrarei um texto parecido, ou mesmo idêntico escrito por outra pessoa em outro lugar e época e idioma? E mesmo que não encontre, não terá alguém pensado o mesmo, ainda que não escrito?

As palavras são minhas, o idioma é meu, as ideias são minhas, eu sou meu? Duvido muito...

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Alienação


Você v a TV
Mas a TV não t v

Você liga a TV
E a TV te desliga.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

poente


quando você está perto
tudo é tão menos distante
tudo é tão menos deserto
tudo parece tão certo

e eu vivo cada instante como se fosse o presente

como se fosse possível
do outro lado do mundo
nascer o sol, no poente.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Infinito


Não é possível reverter uma lágrima
Redizer ou desdizer o que foi dito.

Nem é possível
Com apenas dois olhos pequenos
Conseguir devorar o infinito.

tanto demais



Sei mal. Faz tanto que eu não me enquando. Que eu quase me desmando e não me mando. Mais do que se percebe. O destino, essa carta marcada, esse barco de papel na enxurrada, esse tempo que está me matando. Sorrateiro entre as pessoas, ilhando, oceando. Mares e marés, tempos e temporais. Molham meus sonhos nos varais. Barcos de papel na enxurrada levam pro meu destino mais uma carta marcada. Tanto faz. Mas quando é tanto demais.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

nota

Não troco as notas
Que toco.

Pois entre cifras
E cifrões
Não há troco

Não toco as notas
Que troco
Pois o silêncio é o eco
Do oco.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Correntes


Felizes são as correntes de ar

Que libertam os pássaros

Em vez de aprisioná-los.

Mais cedo ou mais tarde


Mais cedo ou mais tarde
Pretendo cortar os impulsos
E sangrar até viver.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Barganha


Não troco meus arco-íris

Por potes de ouro

Jamais

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Abismo

Ora, meu amigo,
Não fique tão tristonho.

O abismo começa
Onde termina o sonho.

Horizontal


O sol despenca sobre as cabeças, impiedoso.
Amanhã dirão e medirão seus graus e suas intenções amarelas.

Às sombras, homens esperam as tempestades distantes,
As notícias e os acontecimentos distantes, amarelados pelo sol.

Rodas de automóveis imprimem canções e velocidade no asfalto.
Ao longe o mundo acaba e recomeça, além dos horizontes, sem que se perceba.

E a vida continua horizontal.

Ontem frio e ovo frito


Eu engulo o hoje requentado, com gosto de ontem frio e ovo frito.
Absinto-me ausente.
Visto desespero marrom por trás do sorriso amarelo e dos óculos escuros.
Meus olhos anunciam o fim de alguma coisa.
E alguma coisa anuncia liquidação de produtos e pessoas.
Nas esquinas.


Leio os jornais de ontem e finjo espanto amanhã.
Mas ainda espero que batam-me à porta
E me surpreendam ganhador de alguma promoção maluca
Em que me deem de presente um relógio cuco ou uma galinha que prediz o tempo.


Vivo a conta-gotas e suspiro pelos amores sinceros da novela das oito.