terça-feira, 29 de janeiro de 2013

(...)(.)




Vc vai sentir pena de mim?
Não há motivos...nem sentido em ler este poema agora
É só o teclado declamando poemas futuristas enquanto teclo
Todas as possibilidades são válidas...
E o mundo é uma grande esquina redonda
As pessoas são especialistas em lavar as mãos
Chego na padaria e peço uma metáfora bem quentinha
Com biscoitos, pra viagem
Não, não...aquela do canto, com cara de tarde de outono
Corto os pulsos dos meus versos suicidas
As ruas engolem meus passos a seco
As pontes são absurdos arquitetônicos
Deus deve estar catando estrelas recicláveis
As pessoas são recicláveis...
Aquele homem dorme sob os jornais que falam da miséria no país
As letras são miseráveis e aquecem
As pessoas são miseráveis e esquecem
Há sempre um silêncio preso na garganta

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Não te amo mais


Eu não te amo mais! É triste constatar isso, hahaha, é triste olhar no espelho e não te ver nas promessas de rugas e cabelos brancos, hahaha, é realmente muito triste. Justo em uma sexta-feira, tanto sol lá fora e aqui dentro nem uma gota, uma gotinha sequer...eu esperava tempestades para este dia! Raios e trovões, e nada. Apenas uma ausência, um sabor que fica na boca do estômago depois de um pileque...um pileque. O dia está exatamente normal, e eu não te amo mais. Não ocorreram catástrofes, desesperos coletivos, finais de mundos...por quê? Nosso amor afinal não era maior que o tempo e que o espaço, maior que as estrelas e galáxias, não era maior do que nós...era apenas uma cócega em lugar inacessível, uma cócega chata, hahaha, e eu ria sem querer e isso é triste.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A nuvem me chove


Faz uma hora que aquela nuvem me muda inconstantemente
Domando todas as formas de formas descontroladas, desenhando
A si mesma acima dos prédios e dos argumentos dos homens que se esperam e se desesperam nas praças, que se prendem nas casas, que se rendem nos trabalhos.
Comum, acima do possível, do óbvio
A nuvem se expõe, se impõe, se importa...está nua no céu, nua nos braços do vento
Nua de todas as normas, desordenada, desgrenhada, desregrada, mãos invisíveis modelam-na e acariciam-na
Línguas invisíveis citam-na e excitam-na em um idioma plúmbeo e leve aos meus olhos
A nuvem é a continuação dos meus olhos, dos meus suspiros incontidos
Incomunicados...a continuação dos meus atos, dos meus passos, meus espaços cheios de quinquilharias e intranquilidades, dos meus passados atemporais e inférteis, invadindo as frestas do meu dia noturno. Segredando-me possibilidades em possíveis rotas de fuga de condição de status quo de mesmice
Nua, suas formas informais ganham os contornos dos meus desejos como um abraço que paira no céu
Acariciam os meus suspiros, os meus sussurros, os meus pequenos e secretos desprezos cotidianos, pequenos e secretos disparates e deslizes, pequenos e secretos gritos mudos de revolta nos meus olhos, lágrimas de algodão
Agressões delicadas nos meus olhos
A nuvem fazendo amor com o vento impudica impecada indecente, contorcendo-se ao seu bel prazer, expondo as suas intimidades e seus interiores de graça
Colchão de adormecer visões colcha de retalhos enigmas peças de quebra cabeças espalhadas pelo ar

Faz uma hora que aquela nuvem me chove.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A mudez da verdade



Esta manhã acordei e estava mudo, acordei e percebi que sempre fora assim.
Que nunca proferi uma palavra minha.
Profiro regularmente sons vazios, grunhidos indecifráveis, espasmos.
Mas palavras, palavras de fato, as quais se possa tocar, ver, ouvir, cheirar, sentir o real significado
Nas quais eu possa compreender a mim mesmo e compreender ao outro...não