segunda-feira, 15 de abril de 2013

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De que adianta

Tantos gritos pichados nos muros

Tantas vozes escritas nas cartas

Tantas frases expostas nos olhos

E o silêncio preso na garganta?

Primeiro de abril



É mentira!
Não há tempo certo pra nada...
Nem tudo que fazemos ou que nos fazem
Ou que simplesmente nos acontece
Possui um motivo ou mesmo explicação
Ou simples razão de ser
Ocorre que nós humanos vivemos tentando
Instaurar ordens no caos
Vivemos para criar e distribuir importâncias
Esquemas lógicas parâmetros funções
Segundo nossos interesses ou crenças ou constumes
Ou necessidades
Inventamos o centro do Universo e nos colocamos lá

É mentira!
Não existem centros no Universo
E mesmo que os haja nós não estamos neles...

As coisas



As coisas não têm eiras nem beiras

Não têm preços, nem apreços, nem fins

As coisas não são úteis nem primeiras

Não estão nas prateleiras dos boutiquins

As coisas não são como são e não precisam de consertos

Nós é que as desconcertamos com nossos conceitos

As coisas não são suas, nem nossas, nem minhas

Elas se bastam sozinhas.

O mundo munda

...

E as mundanças do mundo

Emundecem a gente.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O Epitáfio de deus




Os homens são o tropeço de deus.
O diabo de uma pedra bem no meio da via sacra.
E os santos palavrões apenas Drummond os ouviu.
São o escorregão de deus em uma casca de banana, outra vez
São as falhas de deus, as cicatrizes,
As rugas, as rusgas, os disparates, as patranhas,
As idiotices, o big brother de deus
Um temporário lapso na coerência divina
Os homens são pichações nos muros de deus
Nos murros de deus
Toques nas portas de deus, maranhos em seus cabelos,
Pedras em seus sapatos, aftas em sua boca
Os homens são os espasmos de deus,
A solidão divina, o divino “ah, foda-se tudo!”
Sãos as tagarelices de deus depois de um bom pileque.
Os dados com que deus joga para passar o tempo
Fiapos de carne nos divinos dentes
Trapos com que ele cobre sua divina vergonha
Espelhos que deus usou para enganar os indígenas celestes
Em troca do universo
Os homens sãos as esperanças e os desesperos
De deus, os medos de deus, as unhas encravadas na vida de deus
Os coelhos que deus tira das celestiais cartolas
Os ursinhos nos os quais se agarra para conseguir dormir à noite
Os homens são um carinho, um tapa, um coice nas divinas bolas
São as olheiras, os cabelos brancos de deus
As impotências, as ejaculações precoces
Os membros rijos do divino corpo

A falta de fé, de amor, de vontade, de fôlego, de existência
Os homens são o epitáfio de deus.