quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Alfredo




Alfredo Bos tinha 54 anos quando morreu em sua casa de beira de estrada há algum tempo. Morreu só. Ninguém lamentou sua morte. Foi encontrado algumas semanas depois, mais pelo cheiro do que pela falta. Era um homem comum. Caminhava todos os dias. Nutria sonhos e desejos. Amou algumas mulheres, foi amado. Apaixonou-se, decepcionou-se, voltou a se apaixonar. Viu coisas, escreveu, disse, aprendeu e esqueceu coisas. Nunca disse nada tão importante a ponto de ser totalmente lembrado nem tão insignificante a ponto de ser totalmente esquecido. Ajudou algumas pessoas, prejudicou outras. Sentiu raiva, remorso, ódio, tesão, medo, pânico, delírio, prazer, dor, culpa e solidão. Sentiu frio e calor. Viajou, perdeu-se, encontrou-se, descobriu, espantou-se e causou espanto. Admirou-se e causou admiração. Decepcionou-se e causou decepção. Sorriu, chorou, tomou partido e foi indiferente. Feriu-se e se recuperou. Levantou-se e caiu, achou que podia tudo, que em seu peito caberia a brisa da manhã inteira e em seus olhos todo o pôr-do-sol. Achou que iria viver para sempre e morreu. E, depois de morto, seu corpo serviu de alimento para os ratos.