quinta-feira, 20 de março de 2014

Da salvação ou destruição do mundo



Eu e meus amigos poetas insanos e degenerados invadiremos vossos reinos de asseclas quantas e quantas vezes for preciso

Sim, e alguns de nós se sentem confortáveis com isso tudo 

Alguns de nós fazem questão de sair à noite e pichar palavras de caos nas fachadas débeis de vossa democracia ventríloqua

Alguns de nós são loucos e cultivam ideias impronunciáveis e libertinas violadoras e feladoras da moral pudica e hipócrita com que pretendeis adestrar esta sociedadezinha de castas

Alguns de nós não passam mesmo de párias e pulhas que cultivam maconha sobre os túmulos de vossos antepassados onde planejamos enterrar vossa linhagem de dominação e controle 

Alguns de nós cultivam ideologias e perversões e cantam mulheres alheias enquanto assoviam a Internacional debaixo de vossos vastos bigodes

Outros de nós ocultam nos miolos insanos de suas cabeças ocas populações de pequenos diabos amassadores de pães com que vos alimentaremos em revide

Estes que planejam secretamente domar o poder e implodir os elefantes coloridos da vossa máquina pública mal azeitada e explodir os miolos da sociedade consumista enredada por vossas estratégias panfletárias

Oh sim, vomitar estes restos de ideologias que nos fazem mal nas impuras vestes da dignidade humana com que limpais os pés

Eu e meus amigos somos abjetos e a poesia é abjeta e viemos para lhes causar ascos e contorções e espasmos e nossa visita não vos será agradável

Nos misteriosos redutos onde ruminam os vossos representantes dos órgãos governamentais há cartazes invisíveis que dizem: proibida a entrada de cães e de poetas
Bem o sabemos, mas não nos impedirão a entrada

Invadiremos por qualquer fresta ou frincha ou vão que seja, pois conhecemos as vossas senhas que são gestos adulatórios e subservientes aos Senhores

Fiqueis pois com vossas tramoias e vossos Engenhos
A nós só importa a Arte

Adentraremos pelas portas da frente de vossos castelos de cartas pois sabemos que a chave deste sistema podre está nos cala-bolsos de vossos rufiões, ó oligarcas do poder local 

Romperemos vossas reservas expugnaremos vossas barreiras violaremos vossas regras executaremos em praça pública as vossas leis caducas

Pilharemos os valores de vossas falsas morais de conduta alteraremos os mandamentos de vossas cartilhas, que dizem: não te revoltarás não te indignarás aceitarás passivamente não teres acesso a saúde e educação e segurança e lazer e cultura

Zombaremos publicamente de vossas estéticas crucificaremos vossos deuses dormiremos com vossas mulheres e vos lançaremos à infâmia

Nós os poetas malditos defenstradores da moral adentraremos as entranhas do sistema corrupto denunciaremos este casamento do céu e do inferno newblakeano que toma conta desta terra feudal 

Em que tantos e tantos dragões do eden copulam a portas fechadas com o poder públicos nos esconderijos de paraísos fiscais enquanto santas e putas se persignam e se abençoam pelos becos enviesados dos numerosos inferninhos da nossa cidade

Romperemos os portões destes céus e infernos e destituiremos deuses e diabos agora assentados nos paços municipais e nas câmaras locais enquanto faremos gestos obscenos e entoaremos musicas do Pixinguinha
 
Eu e meus amigos poetas insanos e degenerados pretendemos sim mudar o mundo com nossos poemas utópicos e insensatos

Ou destruí-lo de vez