“Aqui estou, então: no fundo do poço. Quando a necessidade
aperta, aprende-se em breve a apagar da nossa mente o passado e o futuro. Quinze
dias depois da chegada já tenho fome regulamentar, esta fome crônica que os homens
livres desconhecem; que faz sonhar à
noite; que fica dentro de cada fragmento de nossos corpos. Aprendi a não
deixar que me roubem; aliás, se vejo por aí uma colher, um barbante, um botão
dos quais consiga tomar posse sem risco de punição embolso-os, considero-os
meus de pleno direito. Já apareceram, no peito dos meus pés, as torpes chagas,
que nunca irão sarar...Empurro vagões, trabalho com a pá, desfaleço na
chuva,tremo no vento; mesmo meu corpo já não é meu; meu ventre está inchado,
meus membros ressequidos, meu rosto túmido de manhã e chupado à noite; alguns
de nós têm a pele amarelada, outros cinzenta; quando não nos vemos durante três
ou quatro dias custamos a nos reconhecer.”
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