Não
pode tocar, disse a mãe, que ela estoura. Mas a menina não ouviu, não quis, não
conseguiu, não poderia ouvir. Estava diante de uma bolha de sabão, que
flutuava, dançava graciosamente. Aquela forma colorida, delicada, transparente,
informe, multiforme, trânsfuga era tudo em que ela conseguia prestar atenção,
aquela forma que para ela ali representava a perfeição.
Seus
olhinhos dançavam com a bolha, guiados por ela, fascinados.
Como
se não estivessem na praça, como se não houvesse o dia, o sol, as nuvens, o
vento, as tantas outras pessoas, as crianças a brincar, como se não houvesse
hoje, nem ontem, nem amanhã, como se não houvesse o mundo, nada mais existia. Apenas
ela. Ela e a bolha de sabão bailarina. Ora perto dos arbustos, ora perto do
lago, ora lá longe, a bolha ia indomável, a menina atrás, e a mãe atrás da
menina.
De
repente a bolha estacionou, parou imóvel à frente da menina, encarando-a,
seduzindo-a. Tão perto. E parecia haver nela todas as cores, e na menina todas
as bolhas de sabão. Com os olhos fixos, cada vez mais perto, a menina estendeu
a mão. Cada vez mais perto. Não pode tocar, disse ainda a mãe inutilmente. Como
estar tão perto da perfeição e não tocá-la, e simplesmente ignorá-la, deixá-la
ir? Impossível! Então a menina desenhou
um gesto, um carinho estendido no espaço, e seus pequenos pés suspenderam o
gesto que era ela mesma, e seus pequenos dedos tocaram de leve, muito leve, a
bolha de sabão. Que se rompeu. E as gotículas fulguraram ainda no ar, até que a
menina acordou. Voltou a haver praça, e dia, e sol, e pessoas, e ontem, e hoje,
e amanhã. E a menina se sentiu desamparada, como se todas as outras bolhas de
sabão, as que estavam dentro dela, também tivessem se rompido. Quis chorar, mas
não chorou. A mãe chegou até ela, estava tarde, foram embora. À noite em casa
ela ainda pensava no que havia acontecido. Como poderia a quilo estourar,
romper-se, aquilo que representava para ela a perfeição romper-se com um
simples toque? Ficou sem resposta.
Talvez,
se tivesse se indagado mais, perceberia que a perfeição é isso mesmo, apenas a
frágil pele que encobre o vazio.
Incrível!
ResponderExcluirTão sensível e perturbador!!
Estouramos sempre as bolhas erradas. Ou não.