Hoje a minha intimidade está exposta, intimamente...pra que
cerimônias? Vivo há trinta e um anos comigo e “mau” me conheço. Meus projetos de final de ano nunca se realizaram.
E eu penso com tristeza no estreito de Bering. Minha cabeça pende para fora, o barulho
da rua me seduz, me espanta, mas eu quero ser espantado. Acho que existe uma
rua em meu peito por onde transitam meus sonhos de infância, eles nunca
respeitaram os sinais de trânsito, nem as placas de pare e nem os limites da
imaginação. Detesto a palavra pouso, o pouso é a morte do voo. O agora é sempre
depois e o depois nunca virá, já se sabe. Mas é bom ter dúvidas sobre o que
sabemos absolutamente certo. Dia desses acordarei com dois pés esquerdos, pois
nada é direito comigo. A chuva pintou um belo quadro abstrato na minha parede.
Os homens não morrem, viram lembranças, é triste a lenta transformação de
pessoas em lembranças, de lembranças em esquecimento. Andar é mais difícil do
que parece, o próximo passo pode ser o último. Eu me abstenho de ser eu, não
gosto de ditaduras. O silêncio imediatamente anterior à música, a escuridão
imediatamente anterior ao seu olhar resumem tudo...flashhh...shhh...o seu
silêncio faz barulho em mim. Será que os dias sentirão falta de mim? Padeço do
mal de ser homem, sou mirrado, escasso, fragmentário e tenho prazo de validade.
Às vezes estou nos meus olhos, às vezes nas minhas mãos...mas geralmente nas
suas, agora estou nos seus olhos. A minha melhor definição de mim envolve um
isqueiro, um liquidificador, três lâmpadas fluorescentes, um toca-fitas e um
guarda-chuva. Mas a minha melhor definição de mim nunca é pra mim, é sempre pros
outros, o que é um tédio. Admiro o homem que acabou de dobrar aquela esquina e
se evadiu, deixando meu olhar a esmo. Quem compôs as canções do vento? Não há
manuais para o amor, não se ensina amor nas escolas, não há cursos, regras,
normas, convenções, o amor é o caos. Os meus labirintos levam-me a você, estou
perdido. Às vezes os adeus se disfarçam de até logo. Hoje a minha intimidade
está imposta!
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Nunca se sabe
Nunca se sabe como que isso deve
ser lido, se na primeira ou no verão, se na sala ou no porão, se escovando os
dentes, se debaixo de um jarro, se de trás pra frente, se de dentro pra fora,
se nessa ou em nenhuma ordem, se em um sonho ou em outro idioma, se tirando os
sapatos, se uivando pra lua ou adornando o sol, se oculto entre as retinas
vazias ou as rotinas cheias, se pressionado pelo ontem e o amanhã - o qual
sempre é um pouquinho mais pálido do que o hoje - ou se não deve, isso mesmo,
se não deve ser lido, deve ser queimado, abandonado, esquecido, ignorado, se
deve ser posto junto àquele limbo de documentos importantíssimos empilhados em
algum canto da casa, e que jamais leremos...nunca se sabe o que nos leva a
fazer, o que nos trouxe aqui, o que no
deixará amanhã, que sairá cedo dizendo que já volta, que vai apenas até a
esquina comprar cigarros, mas que sabemos não voltar porque não fuma...nunca se
sabe por exemplo como é que os acendedores de lampião vivem hoje em dia, depois
da luz elétrica, das lâmpadas, dos faróis os acendedores ficaram sem emprego,
como vivem hoje, como vivem seus filhos ou seus netos, de certo vivem de contar
as histórias magníficas de seus antepassados, meus avós, dizem, eram heróis,
acendiam lampião, afugentavam a noite das ruas, nunca se sabe se algum dia
alguém, não algo, mas alguém voltará para acender as luzes.
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Dizem
Dizem que há
poesias embaixo dos cobertores
Escondidas
por entre as pernas do sexo
Tremendo de
gozo, de frio, de amor, de medo
Nos campos
de concentração
As poesias
magras e pálidas sustentam homens dentro dos homens
Dizem que há
poesia dentro dos homes
Fazendo
revoluções, involuções, evoluções
A poesia é
redonda e azul como o mundo, ou não
A poesia não
torna os homens melhores, isso é autoajuda, suponho
A poesia
torna os homens humanos! E isso basta pra mim
Segunda-feira
Mãe,
sorriso, portão, chave, vento, digo brisa, pedaço de céu, pedaços de árvores,
nuvens, pedaços de lembranças, pessoas que passam, por quem passamos, pessoas
que gostaríamos de conhecer, pessoas que nem reconhecemos, pessoas que nos
ignoram, pessoas que ignoramos, pressa, horas, distração, barulho, buzina,
medo, susto, sorriso, grama, rua, mais rua, trabalho...dia...caminho de volta,
uma vida para endireitar e uma esquina a mais pra dobrar: segunda-feira.
Maquiagem
Sinto nojo
Na náusea do enjoo e do nojo
Que trago entre o espelho e o batom no estojo
De maquiagem da vida.
Na náusea do enjoo e do nojo
Que trago entre o espelho e o batom no estojo
De maquiagem da vida.
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