Nunca se sabe como que isso deve
ser lido, se na primeira ou no verão, se na sala ou no porão, se escovando os
dentes, se debaixo de um jarro, se de trás pra frente, se de dentro pra fora,
se nessa ou em nenhuma ordem, se em um sonho ou em outro idioma, se tirando os
sapatos, se uivando pra lua ou adornando o sol, se oculto entre as retinas
vazias ou as rotinas cheias, se pressionado pelo ontem e o amanhã - o qual
sempre é um pouquinho mais pálido do que o hoje - ou se não deve, isso mesmo,
se não deve ser lido, deve ser queimado, abandonado, esquecido, ignorado, se
deve ser posto junto àquele limbo de documentos importantíssimos empilhados em
algum canto da casa, e que jamais leremos...nunca se sabe o que nos leva a
fazer, o que nos trouxe aqui, o que no
deixará amanhã, que sairá cedo dizendo que já volta, que vai apenas até a
esquina comprar cigarros, mas que sabemos não voltar porque não fuma...nunca se
sabe por exemplo como é que os acendedores de lampião vivem hoje em dia, depois
da luz elétrica, das lâmpadas, dos faróis os acendedores ficaram sem emprego,
como vivem hoje, como vivem seus filhos ou seus netos, de certo vivem de contar
as histórias magníficas de seus antepassados, meus avós, dizem, eram heróis,
acendiam lampião, afugentavam a noite das ruas, nunca se sabe se algum dia
alguém, não algo, mas alguém voltará para acender as luzes.
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