Metade das
coisas que eu não compreendo
São mistérios
medíocres e menores
Questões longínquas
triviais ainda que enormes
Dentre elas
estão espalhados sorrisos não oferecidos
Sombras disformes
rastros vestígios
Alguém que
passou e não foi visto
Alguém que
amou e não foi quisto
Uma necessidade
imprecisa
Alguma coisa
que não serviu e foi lançada fora
Algum gênio
que preferiu a solidão das garrafas herméticas
Aos
intermináveis desejos dos homens
A fome
Essa enorme
fome sem sentido e por sentido que devora os homens
Um dia por
vez
Fome de
febre e de voz
Eu não
compreendo a terrível deriva antiquíssima dos continentes
E a atual
dos conteúdos por exemplo
Isso e muito
mais mas na mesma linha compreende a metade
De tudo que
eu não compreendo
Embora seja
compreensível
Pois esta
metade que me compreende e que não é compreendida por mim sou eu
A outra e
mais importante é você.