Eu
e meus amigos poetas insanos e degenerados invadiremos vossos reinos de
asseclas quantas e quantas vezes for preciso
Sim,
e alguns de nós se sentem confortáveis com isso tudo
Alguns
de nós fazem questão de sair à noite e pichar palavras de caos nas fachadas
débeis de vossa democracia ventríloqua
Alguns
de nós são loucos e cultivam ideias impronunciáveis e libertinas violadoras e
feladoras da moral pudica e hipócrita com que pretendeis adestrar esta
sociedadezinha de castas
Alguns
de nós não passam mesmo de párias e pulhas que cultivam maconha sobre os
túmulos de vossos antepassados onde planejamos enterrar vossa linhagem de
dominação e controle
Alguns
de nós cultivam ideologias e perversões e cantam mulheres alheias enquanto
assoviam a Internacional debaixo de vossos vastos bigodes
Outros
de nós ocultam nos miolos insanos de suas cabeças ocas populações de pequenos
diabos amassadores de pães com que vos alimentaremos em revide
Estes
que planejam secretamente domar o poder e implodir os elefantes coloridos da
vossa máquina pública mal azeitada e explodir os miolos da sociedade consumista
enredada por vossas estratégias panfletárias
Oh
sim, vomitar estes restos de ideologias que nos fazem mal nas impuras vestes da
dignidade humana com que limpais os pés
Eu
e meus amigos somos abjetos e a poesia é abjeta e viemos para lhes causar ascos
e contorções e espasmos e nossa visita não vos será agradável
Nos
misteriosos redutos onde ruminam os vossos representantes dos órgãos governamentais
há cartazes invisíveis que dizem: proibida a entrada de cães e de poetas
Bem
o sabemos, mas não nos impedirão a entrada
Invadiremos
por qualquer fresta ou frincha ou vão que seja, pois conhecemos as vossas
senhas que são gestos adulatórios e subservientes aos Senhores
Fiqueis
pois com vossas tramoias e vossos Engenhos
A
nós só importa a Arte
Adentraremos
pelas portas da frente de vossos castelos de cartas pois sabemos que a chave
deste sistema podre está nos cala-bolsos de vossos rufiões, ó oligarcas do
poder local
Romperemos
vossas reservas expugnaremos vossas barreiras violaremos vossas regras executaremos
em praça pública as vossas leis caducas
Pilharemos
os valores de vossas falsas morais de conduta alteraremos os mandamentos de
vossas cartilhas, que dizem: não te revoltarás não te indignarás aceitarás passivamente não teres acesso a saúde
e educação e segurança e lazer e cultura
Zombaremos
publicamente de vossas estéticas crucificaremos vossos deuses dormiremos com vossas
mulheres e vos lançaremos à infâmia
Nós
os poetas malditos defenstradores da moral adentraremos as entranhas do sistema
corrupto denunciaremos este casamento do céu e do inferno newblakeano que toma
conta desta terra feudal
Em
que tantos e tantos dragões do eden copulam a portas fechadas com o poder
públicos nos esconderijos de paraísos fiscais enquanto santas e putas se
persignam e se abençoam pelos becos enviesados dos numerosos inferninhos da
nossa cidade
Romperemos
os portões destes céus e infernos e destituiremos deuses e diabos agora assentados
nos paços municipais e nas câmaras locais enquanto faremos gestos obscenos e
entoaremos musicas do Pixinguinha
Eu
e meus amigos poetas insanos e degenerados pretendemos sim mudar o mundo com
nossos poemas utópicos e insensatos
Ou
destruí-lo de vez
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