Às futuras
gerações não pretendo deixar nada, o mundo
Não está
melhor nem pior do que já estava quando aqui fui posto
Aos 33 anos já
não possuo urgências nem ingenuidades
E percebo que
o amontoado de meus dias
Serviu
apenas para amarelar alguns de meus sorrisos
Deve ser
esta a idade em que os heróis, por praxe, começam a esfumaçar
Diante da
imprecisão dos ideais mais nobres
Vão, aos
poucos, petrificando-se nas praças ante batalhas inacabadas
Ou alongando-se
sobre a pele áspera das ruas por onde desfilam,
Alheios, os
homens e os lugares comuns
Os gritos
impetuosos que me nasciam
A todo tempo
na garganta
Conclamando
à luta contra os moinhos de vento que fatiam nuvens
Foram
transformando-se aos poucos em clichês
Meus poemas
já não fazem barulhos, não convocam a rebeliões
De que
serviriam elas? Sobre as certezas frias, erram meus destinos
Perdem-se
diante de palavras alheias, evadem para terras distantes
As minhas
memórias tornaram-se, aos poucos, covardes frente aos fatos
Dou-me
conta, e só agora, de que tenho gasto meu tempo
E esforço a
construir o túmulo de minhas convicções
Ainda assim,
alguns anseios pueris ousam habitar-me
Avanço de
peito aberto contra as rajadas
Dos ventos e
dos dias
Já não temo
o frio do inverno
Nem revisito
memórias aquecidas por verões passados
Trouxe até
aqui, sem esmorecer, o peso dos homens que me precederam
Mas renego,
agora, todos os nomes e títulos que me foram atribuídos
Por força de
costumes, pois eles falharam em me definir
Devolvo tudo
que me foi imputado pelos signos do nosso tempo
Não pretendo
passar para a posteridade como um rótulo
Volto ao útero
das coisas nu e desprovido de certezas
Como aqui
cheguei
Sem nada
saber, nada esperar, nada oferecer aos que ficarem
O
esquecimento, entanto, há de me redimir.
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