Este tempo abafado
pegajoso e sonso deve ser o amor. Estas nuvens anunciando chuva como loucas querendo
despencar-se à terra a todo custo devem ser o amor. Devem ser o amor estes inúmeros
no contracheque estas pérolas que alguns levam na cabeça e outros no pescoço
estes barulhos dos carros com os quais se pretende atropelar os estratos
sociais. Deve ser o amor este ronco que se ouve nos becos junto aos bêbados
melancólicos os gatos pardos e os cães vadios. Deve ser o amor ali entre os
delírios dos loucos e a assimetria das vidas das rendas das casas das rugas das
calçadas dos postes dos fios elétricos (dos destinos) dos ponteiros dos
relógios dos pios que se atribui a corujas mas que são os corpos ruídos de
palavras românticas cuspidas nos muros por latas de spray. Deve ser o amor ali
logo ali encurvado de olhos arregalados e lascivos fazendo com força e por trás
as necessidades dos homens.
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