quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Evidente

Não, não adianta ensaiar

Dizer, desdizer
Na frente do espelho
Escondido no quarto
Palavra por palavra
Repetir
Uma, duas...dez, mil vezes

Não adianta escrever
Achar ridículo demais o que se escreveu
Jogar fora
Arrepender-se de ter jogado
Recuperar do lixo
Ler, reler, decorar...

Não adianta ensaiar
Uma declaração para este amor
Não para este
Pois o amor que sinto por você
Não se declara:
É incomunicável...

E evidente.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Indescrição

Não sei como te descrever
Pois os meus olhos não te veem
Como você é

Em nenhuma
Das vezes em que eu te vi
Você era o que realmente é
E ainda assim eu te amei
Perdidamente
Em todas elas

Não consigo te definir, portanto

Não sei se é corajosa,
Covarde, imponente,
Impetuosa, esquiva,
Concreta ou abstrata

Não sei se diz o que realmente pensa
Ou se tenta me despistar
Pensando coisas
Diversas do que diz pensar

Não sei se os seus olhos fugidios
Realmente existem
Se os seus cabelos revoltosos
Exprimem verdadeiramente
As turbulentas disposições do seu espírito
Se é que são assim

Não sei para onde você vai
Ou de onde vem
Ou se eu irei junto
Quando e aonde você for

Não sei se finalmente irei te encontrar
Pra sempre
Ao te encontrar um dia

Não, nada disso sei...

Mas sei
Que tudo que não é você
Não é importante.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Aceitar

Como poderia a nuvem
Não aceitar
O destino que lhe dá o vento
A forma em que a esculpe o ar?

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A bolha de sabão


Não pode tocar, disse a mãe, que ela estoura.  Mas a menina não ouviu, não quis, não conseguiu, não poderia ouvir. Estava diante de uma bolha de sabão, que flutuava, dançava graciosamente. Aquela forma colorida, delicada, transparente, informe, multiforme, trânsfuga era tudo em que ela conseguia prestar atenção, aquela forma que para ela ali representava a perfeição.
            Seus olhinhos dançavam com a bolha, guiados por ela, fascinados.
Como se não estivessem na praça, como se não houvesse o dia, o sol, as nuvens, o vento, as tantas outras pessoas, as crianças a brincar, como se não houvesse hoje, nem ontem, nem amanhã, como se não houvesse o mundo, nada mais existia. Apenas ela. Ela e a bolha de sabão bailarina. Ora perto dos arbustos, ora perto do lago, ora lá longe, a bolha ia indomável, a menina atrás, e a mãe atrás da menina.
De repente a bolha estacionou, parou imóvel à frente da menina, encarando-a, seduzindo-a. Tão perto. E parecia haver nela todas as cores, e na menina todas as bolhas de sabão. Com os olhos fixos, cada vez mais perto, a menina estendeu a mão. Cada vez mais perto. Não pode tocar, disse ainda a mãe inutilmente. Como estar tão perto da perfeição e não tocá-la, e simplesmente ignorá-la, deixá-la ir? Impossível!  Então a menina desenhou um gesto, um carinho estendido no espaço, e seus pequenos pés suspenderam o gesto que era ela mesma, e seus pequenos dedos tocaram de leve, muito leve, a bolha de sabão. Que se rompeu. E as gotículas fulguraram ainda no ar, até que a menina acordou. Voltou a haver praça, e dia, e sol, e pessoas, e ontem, e hoje, e amanhã. E a menina se sentiu desamparada, como se todas as outras bolhas de sabão, as que estavam dentro dela, também tivessem se rompido. Quis chorar, mas não chorou. A mãe chegou até ela, estava tarde, foram embora. À noite em casa ela ainda pensava no que havia acontecido. Como poderia a quilo estourar, romper-se, aquilo que representava para ela a perfeição romper-se com um simples toque? Ficou sem resposta.
Talvez, se tivesse se indagado mais, perceberia que a perfeição é isso mesmo, apenas a frágil pele que encobre o vazio.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Pele

Leio que te amo que te amo que te AMO
Em todos os sentidos:

Os possíveis e os impensáveis
Os descritos e os indiscretos
Os proscritos, os secretos...

Deixo que o amor me leve e me revele
Em todas as sentenças, todos os afetos

Pelas alvas páginas da tua pele.