segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Apenas por hoje

Apenas por hoje
Todos os risos bobos estão libertados
já poderemos dançar nus pelos parques e praças
da cidade
sem que isso
signifique necessariamente insinuação de sexo
nossos falos que se falem
muitos suicídios foram tentativas
malsucedidas de voar
todos os desvarios já não são sinônimo de tédio
já poderemos lamber o box
dos banheiros públicos após limpar nossa consciência
sem que isso signifique ultraje
já poderemos
desemaranhar coraçõezinhos
com a pontinha dos medos virar as páginas em branco
escancarar as portas para o desconhecido
apenas por hoje aceitarei abraços clandestinos
musicarei cantadas toscas de pedreiro
lerei bulas na esperança de curar minha ressaca moral
até os injustos dormem
o futuro pertence ao campo dos porquês
o céu faz doce para minhas pupilas
gustativas através das nu
vens
todas as o
givas nucleares choram
já cometi a tolice de possuir certezas
apenas por hoje
ingiro manga com leite derramado sem morrer
salvo algumas exceções
e tento libertar garrafas de seus rótulos
apenas por hoje
eu gostaria de voar com a língua portuguesa pelo céu
da sua boca
e eu nem sei a diferença entre os porquês.

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