quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A nuvem me chove


Faz uma hora que aquela nuvem me muda inconstantemente
Domando todas as formas de formas descontroladas, desenhando
A si mesma acima dos prédios e dos argumentos dos homens que se esperam e se desesperam nas praças, que se prendem nas casas, que se rendem nos trabalhos.
Comum, acima do possível, do óbvio
A nuvem se expõe, se impõe, se importa...está nua no céu, nua nos braços do vento
Nua de todas as normas, desordenada, desgrenhada, desregrada, mãos invisíveis modelam-na e acariciam-na
Línguas invisíveis citam-na e excitam-na em um idioma plúmbeo e leve aos meus olhos
A nuvem é a continuação dos meus olhos, dos meus suspiros incontidos
Incomunicados...a continuação dos meus atos, dos meus passos, meus espaços cheios de quinquilharias e intranquilidades, dos meus passados atemporais e inférteis, invadindo as frestas do meu dia noturno. Segredando-me possibilidades em possíveis rotas de fuga de condição de status quo de mesmice
Nua, suas formas informais ganham os contornos dos meus desejos como um abraço que paira no céu
Acariciam os meus suspiros, os meus sussurros, os meus pequenos e secretos desprezos cotidianos, pequenos e secretos disparates e deslizes, pequenos e secretos gritos mudos de revolta nos meus olhos, lágrimas de algodão
Agressões delicadas nos meus olhos
A nuvem fazendo amor com o vento impudica impecada indecente, contorcendo-se ao seu bel prazer, expondo as suas intimidades e seus interiores de graça
Colchão de adormecer visões colcha de retalhos enigmas peças de quebra cabeças espalhadas pelo ar

Faz uma hora que aquela nuvem me chove.

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